domingo, 28 de janeiro de 2018

Convergência, eleições e o voto da Geração "Z”


Por Rodolpho Raphael 

Um dos grandes pensadores contemporâneos Zigmund Bauman, traz em seus escritos que vivemos em uma era pós-moderna cuja sociedade é líquida.  Uma sociedade formada pelas relações fluidas, estruturadas por relações frágeis tendo em seu viés a ruptura para uma imersão no espaço social onde “teoricamente” escolhemos nosso futuro, optamos pelo nosso destino e somos responsáveis pelo nosso fracasso.
Associado a isto, estamos assistindo o surgimento de uma nova geração, a “Geração Z”, também chamada pós-millennial, formada por aqueles que nasceram entre os meados dos anos 2000 e que cresceram basicamente tendo a tecnologia como cerne de suas vidas. Fazendo com que, o virtual se sobreponha ao real e estes passem a viver na era da hiper-realidade.   
O que eu quero dizer, é que este público refém da tecnologia, usuários assíduos de smartphones, das plataformas de redes sociais, de uma cultura midiatizada e propagável que os fazem produtores, criadores, reconfiguradores, propagadores e influenciadores de conteúdo na rede, tem também no streaming de vídeo a sua primeira opção ao invés da televisão (o que o torna concorrência direta das TVs abertas e fechadas, cuja tendência tem-se a tornar-se irreversível).  


Este é o perfil de quase 2% do eleitorado brasileiro. Jovens críticos e politizados cuja formação da opinião é consolidada na espacialidade e temporalidade das redes sociais. Este público somado aos 27% do eleitorado jovem entre 18 e 29 anos, pode fazer a diferença nas eleições gerais de 2018. Logicamente, há fatores preponderantes para esta ruptura da consciência política, o principal deles são as crises instauradas no país: crise econômica, social, de democracia representativa, ética, moral e os escândalos de corrupção que ouvimos falar nos últimos dois anos nos mais diversos meios midiáticos.

Há de se convir que esta parcela pode ajudar na decisão de uma eleição, como também pode prejudicar, principalmente quando se fala dos cargos de deputados e senadores, cuja classe política, segundo Baudrillard, está se separando cada vez mais da classe “real”, de forma que se extingue a possibilidade de qualquer interação entre ambas. Como se não bastasse, a estrutura comunicacional e midiática oferecida por eles vão de encontro aos processos de interação e de hiper-realidade vivenciados pelos jovens desta segunda década do século XXI.

As eleições de 2018 vão muito mais além do que a velha política representada pelo ‘tapinha’ nas costas e pelas visitas nas casas dos potenciais eleitores. Afinal, a tecnologia já permite a onipresença a partir de suas multiplataformas. O público por sua vez, espera ver e receber em seus PC’s, notebooks ou smartphones um político conectado, participativo, que interaja diretamente com eles e crie laços a partir do storytelling, sem engessamentos ou intervenções da assessoria.
Em outras palavras, o eleitorado jovem quer um político humanizado, onde a suas redes sociais, retratem o dia-a-dia e o cotidiano do político que é pai, marido, filho, irmão, amigo, compadre, padrinho, que vai à missa ou ao culto, ao forró e também a roda de samba, que toca violão ou canta, que toma Coca-Cola, Fanta ou Guaraná junto com o velho pastelzinho da feira. Um político que tenha plataformas de redes sociais como extensão do seu corpo e da sua identidade.
Sendo assim, os pré-candidatos que souberem trabalhar com esta proposta, que souberem escolher a sua equipe de trabalho, e principalmente tenham domínio com a tecnologia, terão fortes chances de agregar este público à sua campanha. Afinal, por trás de cada métrica do seu Analytics, de cada visitante do seu site ou seguidor de suas redes sociais existe uma pessoa de carne e osso.
Trazendo ao nosso vocabulário, humanizar o discurso político deve ser essência antes da tendência, tendo em vista o despertar da memória afetiva do eleitor que é fomentado a trabalhar de forma a fazer com que, a comunicação efetiva seja reflexo de um planejamento onde o público seja o centro e a base de todo o processo.

* Rodolpho Raphael é professor, jornalista, especialista em Mídias Digitais, Comunicação e Mercado, mestrando em Computação, Comunicação e Artes com linha de pesquisa – Mídias em ambientes digitais. Criou e atualmente é coordenador da Pós-Graduação em Comunicação e Marketing Político da UNICORP.   Contato: (83) 988617880 

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